Eu tinha tudo programado, como sempre, controlo tudo (ironia, sim?). Quando fui à consulta com a anestesista (porreiraça e gira, a mulher) repeti, até à exaustão, que no braço só me podiam espetar as coisinhas azuis, tendo em conta a experiência do internamento anterior. Sim, eu sou uma princesa de veias finas e os meus cateteres têm de ser pediátricos. Ela concordou, claro, e disse-me para, quando fosse a entrar no bloco, lembrá-la de usar os azulinhos.
Claro que eu devia ter percebido que, se ela tomou nota da minha altura, do meu peso, da minha medicação actual, e da minha alergia ao ácido clavulânico, também poderia ter tomado nota deste pequeno pormenor.
Portanto, quando, dias depois, me estavam a levar para o bloco, eu só repetia que, com os nervos, não me podia esquecer de avisar a anestesista dos coisinhos azuis. E até se me iluminou a cara quando a vejo entrar na sala, toda lampeira: não me tinha esquecido.
- Bom dia João!
- Bom dia Dra! Não se esqueça dos azuis!
- Dos azuis? Oh João, isso só se usa no internamento, nunca no bloco, a não ser em crianças mesmo pequenas.
- Mas mas mas ... (aqui lembrei-me do porquê me terem começado a puncionar com os azuis: sim, as veias fininhas que não só fogem como incham ao menor cansaço)
- Sim, eu sei o que disse ... mas assim a João ficou descansada até hoje, não foi? Agora vamos pôr um cor-de-rosa, de menina, e tungas, não vai dar por mais nada!
- "#@££@§#"# ... ... zzz .... zzzz ...zzzzzzz ...
(de facto não dei por mais nada, mas ainda hoje tenho o pulso inchado!)