Ontem no autocarro entra uma personagem saída de um salão de cabeleireiro tipo Betty Feia. Cabelo com um tufo no alto, elástico daqueles de veludo, o cabelo de um louro Barbie, blusa às bolinhas. E uma bebé no colo. Senta-se à minha frente. De repente, farta já de aturar a petiza, vira-se para a rapariga do lado "Olha, segura aí", e escarrapacha a criança no colo da rapariga. E fica a olhar para o lado. A rapariga a tentar fazer a miúda sorrir, como todos fazemos (ou quase todos, que eu tenho cá para mim que tão depressa não me apanham em aventuras destas), a criança a olhar para a mãe, a mão, repito, a olhar para o lado.
É isto... Fiquei a pensar...
No caminho de casa, e porque hoje ia estar de abertura (e estive, e estive, senhores, com que vontade!) e porque demorou um pouco mais o pôr o namoro em dia (nunca se põe tanto como queríamos), resolvi apanhar um táxi. Só que, destrambelhada como sou, esqueci que tinha gasto o dinheiro que trazia comigo quase todo. Então digo para o rapaz do táxi, desempoeirado e de boné na tola quase à meia-noite: "olhe, era para a casa da Miss Me, mas assim o mais depressa possível" porque o dinheiro que tenho aqui vai ter que chegar. Acabo por lhe dizer que tenho não pressa, mas sim apenas nove euros comigo. Resultado da sinceridade e simpatia da minzinha: one free taxi ride. Não só não me cobrou a corrida, como me deu o contacto para futuras emergências taxímicas.
E foi isto, versão dois.
Há gente estranha. Eventualmente, não sei se prefiro a normalidade de alguns, mas há pessoas que nos aquecem o coração sem perceberem o gesto.