Pedro Passos Coelho, ainda primeiro ministro - o traidor do povo traído pelo popular. Personagem pouco caricata, jotinha de profissão e político em eterno estágio. A tentativa falhada de serenidade. O "podia ter sido mas nem por sombras foi". Sem mão em Gaspar, decidiu que ter permitido que Gaspar lhe desse um tiro no pé não fora suficiente, então resolveu nomear (ou deixar nomear) Maria Luís Albuquerque. Pouca inteligência política, uma espécie de Abraracourcix, uma figura e pouco mais, cuja maior característica é ter medo que o céu (ou Cavaco) lhe caia em cima da cabeça. Dispensável e secundário neste enredo.
Paulo Portas, o ministro demissionário promovido - o animal político provocador. Portas tem talento para a política, para a retórica e para o populismo. É dos melhores oradores que Portugal viu na cena política nos últimos anos, senão na última década. Lamentavelmente, a criação da figura de Portas esbateu-se quando entrou para este governo. Arriscou bastante na sua demissão, numa jogada que poderia ter sido brilhante. Mas não foi. O memso brilhantismo que caracteriza os seus discursos condenou-o ao julgamente popular, sendo que poucos políticos voltarão a utilizar a palavra "irrevogável". Luta neste momento por manter a sua liderança do CDS-PP indiscutível e por se manter fortalecido no governo. Nenhuma das tarefas se afigura fácil.
António José Seguro, líder do maior partido da oposição - o inexistente. Tozé Seguro não existe politicamente e creio mesmo que tem medo de existir. O PS teve um erro de casting crasso ao optar pelo Tozé em detrimento do Francisco Assis. Escolha esta que leva a que nenhum português queira eleições antecipadas por achar que Tozé inseguro, o provável vencedor (Deus nos livre) não tem o que é necessário para lidar seja o que for, muito menos um país. Pode ser uma pessoa fantástica, mas é um incompetente político. Ponto.
Aníbal Cavaco Silva, que afinal está vivo - o verdadeiro animal político. Cavaco é que é "o presidente da junta". De uma só assentada, puxou as orelhas ao menino Coelho, pôs Portas no seu lugar (coisa que poucos julgariam possível) e informou o governo sobre onde reside o verdadeiro poder: algures, não se sabe onde, mas não no governo. Astutamente, fez a coisa pela calada, e quando todos estavam já a postos para um novo governo, Aníbal agitou o indicador, meneando a cabeça, ora aqui estão as condições. Peca por tardio, peca por inconsequente em termos práticos (poucos duvidam da confirmação do segundo resgate), mas um tiro político certeiro como poucos.
Assunção Esteves, por quem ninguém dava nada - a assustadiça ex-defensora da democracia. Claro que os deputados não foram eleitos para terem medo ou para serem desrespeitados... Mas também então que não façam o povo temer o futuro e, sobretudo, não desrespeitem o povo (e o povo não se resume aos manifestantes). A Assembleia da República é a casa da democracia neste país, e os deputados (e à presidente, sustentados por todos nós) foram eleitos para representar o povo a quem pretendem fechar as portas da casa da democracia. Uma resposta brilhante, concisa aqui.
(cartoon do Henrique Monteiro, disponível na secção de cartoons do sapo)
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