Tenho pena dos nomes com que, desde ontem, brindam a tua progenitora. A culpa não é dela, não, certamente que ela não sabia. Como poderia saber, a coitada, a enorme besta quadrada que viria a parir?
Sabes, Pedrito, custa-me entender como é que, andando a apertar o cinto, a fazer corajosos sacrifícios, blá blá, há já tanto tempo, a conjuntura não melhore. Antes pelo contrário, piora a olhos vistos. Não entendo, até porque, felizmente para nós, tu não pareces nem mais privado dos vícios mundanos, nem qualquer elemento do teu esquadrão do terror. Ainda que continuem a sugar-nos, empunharemos, felizes e contentes, a bandeira da comiseração, do esforço patriótico, não sabemos fazer outra coisa, daí teres dirigido palavras tão cruéis mesmo antes da hora da bola. Mas Pedro, até a inércia dos portugueses se esgota. Teme, pois, a fúria dos mansos. Há-de haver por aí quem te queira foder o juízo e a carteira. Eu preferia ter-te em cativeiro a pão e água durante quatro aninhos. Ou tudo junto... Só para os sacrifícios serem devidamente repartidos. E mesmo assim, temo que nos fiques a dever...