espaço de mau feitio, alguma reflexão, música e outras panóplias coloridas

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Sim, fiz greve. Decidida, ponderada e convictamente. Não o fiz em ocasiões anteriores, em que a greve era mais prejudicial à empresa onde estava a trabalhar do que àquela entidade governante que nos deveria orientar. Afinal, o objectivo da greve seria sempre o de dar um alerta genuíno, um protesto gritante e unido. Mas desta vez, desta vez a situação é um pouco diferente.
Façamos um balanço destes 32 anos de vida. Casa própria, não. Carro próprio, não. Trabalho, o que vai havendo, desde que resolvi arriscar para investir mais na psicologia, essa vocação que me valeu 5 anos deliciosos de licenciatura e quase outros tantos de pós-graduações. O que vai havendo, repito. Aos sábados, todos, e outros dias esporádicos. O restante da semana, e do vencimento, vem de um call-center. É trabalho honesto, é trabalho digno, em todos os trabalhos retiro algo de positivo, em todos aprendo algo, em todos conheço gente que me ensina e inspira. Mas, ainda assim, faço greve. Por mim, pelos meus, pelos outros, e embora me assuma como tendencialmente canhota, demarco-me claramente dos debates patéticos que se vêem na Assembleia da República. Repito: patéticos. Temos um primeiro ministro patético, ministros, quase todos, patéticos, um líder da oposição patético, enfim, uma AR patética e deprimente, a quem sustentamos. Também por eles, ou em seu desfavor, faço greve. E sai-me do bolso. E não, não tenho receio de perder o meu posto de trabalho. Trabalho digno e honesto, sim, não me mete medo, já escrevi, daí não temer o que aí vem. Entendo o desespero de quem não fez greve por receio de represálias. E entendo quem foi trabalhar por não ser a favor desta greve. E, sobretudo, entendo quem, como eu, fez greve. Porque tanto uns como outros têm direito à sua escolha. Eu fiz greve. Sim.

publicado por Vita C às 17:11
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13 comentários:
Subscrevo o texto e saúdo a vinda à luta, e por ter o discernimento de avaliar as razões e não temer o futuro.
eu ando às voltas a 28 de Junho de 2013 às 19:02

Obrigada!
Fiz greve porque esta me fez todo o sentido e porque o desespero e o medo não se podem sobrepor à vontade da maioria. Dizem-me alguns que não serviu para nada. Eu não concordo, a minha greve foi um protesto solidário mas também egoísta. Não posso pactuar com a actual situação. Obrigada, mais uma vez :)
Vita C a 29 de Junho de 2013 às 19:48

A greve serve sempre para algo. Para dar um grito de revolta, o marcar de posição, o sentir que se tentou algo para reverter o rumo das coisas, e acredita, não pode não se ganhar sempre, mas algumas saem vitórias, noutras são o acumular de lutas que dão frutos, mas sempre se ouve a voz de quem protesta, mesmo que digam que não.

Inteiramente de acordo. Creio que chegaremos lá, quando alguém que tenha algum poder perceber que as pessoas são, e têm mesmo de ser, mais importantes do que os números...
Vita C a 30 de Junho de 2013 às 13:08

As pessoas são sempre mais que números, apesar de alguns não quererem ver.

Enquanto jovem prestes a entrar na universidade, nem sei o que pensar do meu futuro profissional que se aproxima. Se estivesse no seu lugar, teria agido do mesmo modo!
BeatrizCM a 28 de Junho de 2013 às 19:42

Se estivesses no meu lugar (aqui o tratamento é por tu, que isto da terceira pessoa faz-me velha), saberias que nem eu, deste lugar, penso muito sobre o meu futuro profissional. Pensar demasiado, nesta altura, é contraproducente. Fazer-mo-nos à vida e criar oportunidades, na medida do possível. É assim que tenho feito.
Obrigada!
Vita C a 29 de Junho de 2013 às 19:50

Todos nós temos o direito de fazer greve, e de exercer esse direito. Se todos fossemos tão frontais como tu, se todos nós tivéssemos a coragem de fazer greve, este Portugal andaria muito melhor, não seria um Paraíso, mas seria garantidamente muito melhor....

PS. Cá em casa não se fez, o marido tem a empresa onde trabalha às portas da insolvência, logo fazer greve nem pensar, eu não faço nada... mas se estivesse a trabalhar teria feito. Temos direito a "um tudo" melhor, só por isso!
soumaiseu a 28 de Junho de 2013 às 20:10

São, tu não digas que não fazes nada! Porque fazes. Não és é remunerada.
Dito isto, entendo perfeitamente a situação do teu marido. E por motivos semelhantes (em que a greve prejudicava a empresa e não o Estado ou o governo), houve alturas em que não aderi a greves. Mas desta vez, opá, com contratos mensais num call center, a apoteose da segurança e da perspectiva de futuro para qualquer um. Tipo, mas estão a gozar comigo? Estive uma tarde toda em formação fora do meu horário de trabalho sem ver mais um tostão e não haveria de fazer greve (ao menos desta vez não me disseram para ir fazer chamadas, como anteriormente)... Ah pois não...
Beijinhos para ti e para a catita :)
Vita C a 29 de Junho de 2013 às 19:54

também eu fiz greve e faria de novo, por mim, que com 54 anos e 25 anos de trabalho na função pública, não sei como será o dia de amanhã, mas sobretudo pelas minhas filhas, e pelos filhos de todos, cujo futuro neste país não tem esperança.... lamentavelmente.
8alda fernandes a 29 de Junho de 2013 às 17:55

É verdade...
A essa ideia acrescento que no início do ano, a minha mãe, do alto dos seus 64 anos, estreou-se em manifestações. Bom, dizer isto é como dizer que o sol nasceu às dez da noite, que a minha mãe tem umas convicções políticas algo diferentes das minhas. Mas também ela sabe que esta orientação não tem futuro, nem para ela, nem para mim, nem para ninguem...
Vita C a 29 de Junho de 2013 às 19:56

Obrigada Cara Colega, identifico-me por completo até enquanto Psicóloga....Felizmente (e ñ infelizmente), é isto mesmo a Vida de 1Jovem que luta por não ser ignorante nem teso!!! ;D
Até Pq sou mais feliz, mais resistente e mais tolerante, só assim!!!
De Politiquices ñ reza à história, mas sim as Pessoas é que podem fazer a diferença, nós jovens Portugueses, estamos a fazer a diferença...
Parabéns pelo artigo!
monica t a 30 de Junho de 2013 às 13:40

Gostei tanto desse "felizmente (e não infelizmente)" :)
Obrigada pelo comentário, pela persistência e pelo futuro.
Vita C a 1 de Julho de 2013 às 21:17

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