Está a dar no telejornal a história do pai que em Coimbra teve de ser assistido por estar em greve de fome há um dia, estando a subsistir de café e água. Um claro aproveitamento da mediatização que se gerou em torno do já famoso "caso Martim".
Primeiro, por mais injusta que seja a retirada de uma criança aos pais, existem os devidos trâmites legais para recorrer. Esses é que são os válidos e são esses que devem ser usados. Senão andamos como o Isaltino (que conheço muito bem, visto ser munícipe de Oeiras), a sair da sala de audiências porque não concordamos (mas que merda é esta? bem, aqui não me alongo).
Segundo, porque onde vai um português, não têm de ir logo dois ou três, e este é o verdadeiro risco do "caso Martim": abrir os precedentes para que as crianças que são retiradas aos pais por razões claras ou que são entregues voluntariamente para adopção efectivamente possam seguir o seu caminho.
Se são crianças retiradas aos pais, fiquem sabendo que não o são levianamente. Por mais minadas de cunhas que as Comissões de Protecção a Menores estejam, não deixam de ter rígidos procedimentos e critérios. Cada vez mais as relações de pais que ainda não são adultos de plena consciência são montanhas-russas, hoje estão bem, amanhã não sabem, e depois de amanhã já se amam outra vez até ao fim do mundo. Se acham que isto é o bom para uma criança, argumente-se que as instituições podem não ser boas, mas ao menos são mais constantes.
Claro que os pais podem lamentar a sua decisão, mas se são adultos para darem trancadas desprotegidas, se são adultos para decidirem o futuro de uma criança ao entregá-la para adopção, não são lá muito adultos ao recorrer a uma grevezita de fome a café (com ou sem açúcar??) e água (até porque para mim, greve de fome foi a dele). Pode parecer frio, mas pensassem antes. Uma criança quando nasce não vem com uma cláusula de teste, é algo demasiado inocente para ser experimentado ou testado. É a vida.
Não pretendo com isto que se anulem os direitos dos pais. Só que ser pai não é só o fruto de uma ou de muitas quecas. Não é um acidente, ou não deveria ser. Mais a mais, com a despenalização do aborto (que não me merece comentários de momento), cuja grande bandeira foi a de evitar muitas situações como as que têm vindo a lume, estas questões perdem sentido crítico. Ser pai ou mãe não é um direito adquirido. É um privilégio. Felizes daqueles que se esforçam para o merecer.
Dardejem lá, ou não, esses comentários viperinos...