Eu garanto que não é só às vezes.
Convenhamos que as notícias são como tsunamis, são de ondas. Andamos todos em volta da fogueira do défice, da dança do Obama, da subida do salário mínimo, blá blá.
Sobre o salário mínimo muito haveria por dizer. Quando eu estava na faculdade, e por aquela ser estatal, pagava de propina o salário mínimo, na altura ainda em escudos e contos. E custava-me.
Parece que o salário mínimo passa para 475 euros. É muito, demasiado, dirá o patronato.
Ou então é pouco. Passando a figura frágil da linguística, é muito pouco, assustadoramente pouco. E nem vou explanar sobre a pouca compensação que terá para muita gente que recebe o subsídio de desemprego ligeiramente inferior sem ter de trabalhar durante um mínimo de oito horinhas por dia. Prefiro mesmo insistir no facto de a esmagadora oferta de emprego nestes dias se situar neste valor. Independentemente das habilitações, do esforço envolvido no trabalho, nas horas exigidas, nos atropelos à lei cometidos diária e quase horariamente.
Façamos contas simples e pouca retórica: por mais que custe ao patronato e aos donos de empresas, que a custo ou nem tanto, vêem o seu lucro diminuir (mas continua a ser lucro, certo?!), muito mais custará a uma pessoa ou uma família aguentar-se dignamente com um salário destes. Quando refiro dignamente estou a pensar em mais do que a alimentação, a renda, as despesas da casa, etc. etc.. Deveríamos utopicamente trabalhar para poder ter qualidade de vida e não trabalhar para sobreviver.
Dizem os especialistas que devemos aprender a gostar do que fazemos. Será difícil enquanto não aprendermos a valorizar a "mão-de-obra" (que termo tão pouco simpático).Sem envolvimento não há desempenho. E meus amigos, o envolvimento também se paga.