Estava eu fora da capital a adivinhar uns dias de tédio (e não de ócio) quando me apercebo que me tinha esquecido de levar um livro. Ora parece que as livrarias são espécie em vias de extinção, mas lá desencantei o Fúria Divina, do senhor do telejornal com sotaque aprimorado que nos pisca o olho quando se despede. Estava já resignada quando encontrei Marina. Carlos Ruiz Zafón é o escritor d'A Sombra do Vento e d'O Jogo do Anjo. Os títulos podem parecer comercialóides, mas não se isentam de uma escrita que nos prende desde o primeiro momento. Pelo menos a mim.
A "incandescência da ferida fresca", como lhe chama Zafón, merece-lhe este lugar no pódio. Não são "apenas" narrativas cativantes e bem construídas, nem somente adjectivos e advérbios bem escolhidos e colocados. Há aquele toque inconfundível que a história nos deixa, aquela angústia de termos lido a última página e sabermos que era só um livro. A raiva de Julian Caráx, a ansiedade de David Martin, a eterna livraria Sempere, o Cemitério dos livros esquecidos, todos os fragmentos que se impregnam no nosso histórico pessoal de leitura.
Confesso que é um terceiro lugar distante de García-Márquez e de Saramago. Ainda assim, e talvez por concorrer com estas referências tão grandes para mim, afigura-se-me uma óptima escolha.