Acredito que as pessoas, todas e sem excepção, merecem uma segunda oportunidade. Não acredito, porém, que as pessoas mereçam ducentésimas oportunidades.
Acredito ainda no sentido de famíla e nos Mosqueteiros de Dumas, "um por todos e todos por um". Sim, pode parecer antiquado, quando hoje em dia os valores se alteram à velocidade de um click. Das oportunidades, que se aceitam, se dão, mas não se vendem nem se compram. Mas cobram-se, porque o envolvimento é muito.
Recordo como se fosse hoje da primeira vez que me falaram em tentativas de suicídio em terapia. Do chão que foge e do refinamento que se adquire, do julgamento sensível na avaliação que se faz.
Da merda e das drogas que neste mundo se vendem e se compram, das idas ao Algarve para apoiar na ressaca, dos internamentos compulsivos. De me ter especializado em comportamentos aditivos e de serem dos poucos pacientes que optei por não seguir. De ouvir que nunca mais e o nunca mais durar dois dias. Do virar costas à família que sempre lá esteve, do luto feito em vida porque há máscaras que se tornam na própria pessoa.
E hoje, volvidas duas semanas de novas oportunidades, a sensação que mais uma vez, como se sabia, a força da puta da heroína é mais forte, daí o nome, (quase) ninguém lhe ganha. E a vontade de espetar dois sopapos bem pregados naquele gajo, quase 40 anos, mais de metade na merda, mais de metade a arrastar-nos na merda, e ninguém a pôr-lhe limites.
Acredito ainda que amanhã já terei outra compostura, outra posição, outra raiva e outro ser. Mas hoje, só hoje, preciso de um basta e de um murro na mesa.