Não me importa que coincida com um solstício e uma festa pagã, na verdade, é-me rigorosamente indiferente.
Ao contrário do que se possa pensar, o Natal não é o momento mais importante na vida cristã. Nem de perto nem de longe. Até porque começou antes deste 23 de Dezembro em que a azáfama das últimas compras toma conta das cidades. No Advento já os católicos andam a tentar preparar-se para o nascimento desta esperança que se renova quase ingenuamente, infinitamente, como só um Deus como deve de ser pode fazer. Mas dizia eu que já andámos aqui a bater com a cabeça nas paredes durante estas 4 semanas, uma introspecção que nem sempre convive com o dia a dia atarefado. Por isso o Natal é uma espécie de "Até que enfim!", um "Aleluia, que esta introspecção não é nada fácil, que eu não sou tão firme nesta coisa da fé como pensava".
O Natal é quase o menor dos milagres da fé. Ainda assim, é o que opera de forma mais abrangente e mobilizadora para a sociedade. É daqueles feriados em que não nos importamos de ser mais bonzinhos, mais fofos, estendemos a mão para quem precisa (mas com cautela, que a gente dá uma mão e querem logo o braço todo), até nos comovemos e fazemos esforços para aturar, perdão, compreender e ser simpáticos com aqueles familiares que no próprio dia 26 iremos desprezar novamente. Mas somos um pouco melhores, e essa verdade é valiosa, da mesma forma que é indiferente se foram 2 ou 3 ou 45 os reis magos e os pastores, se é que havia pastores naquelas bandas, tal como a virgindade de Maria é absolutamente irrelevante para a mensagem de Amor de Cristo (além de ser apenas um erro de tradução que a Igreja resolveu sobre-aproveitar, originando equívocos e histerias moralistas totalmente dispensáveis). Basicamente, da humildade e simplicidade vem o Amor. Ponto. O amor é isto e nada mais*.
Ainda bem que o Natal não é quando o homem quer... é apenas um momento pequenino na fé, traz-nos esta esperança imensa no amor, este menino que nasce há mais de 2010 anos, mas sobretudo nos exige e nos testa, nos lembra de como nascer todos nascemos, é o que fazemos com esta vida que realmente importa.
Que seja, eu continuo a preferir a Páscoa, e até há menos gente na rua. Já para não falar na Paixão e Ressurreição, mas disso depois falaremos.
* Só eu, para pôr o título de uma música de Ornatos Violeta num post sobre o Natal e a religião. Mas é por viver todas estas coisas com simplicidade no dia-a-dia.