Sou daquela esquerda que não teme emocionar-se. Daquela que ontem lamentou a morte de Miguel Portas e, em verdade se diga, a chorou. Claro que o facto de eu ser uma lamechas e o João Semedo ter tremido a voz não ajuda. Sou daquelas pessoas que se arrepiou com a voz decrépita do Paulo de Carvalho, sombra de uma canção que tanto vale por si só. Sou daquelas que nunca entendeu aqueles que preferiam os tempos do antigamente, os tempos de Salazar. Sou daquelas pessoas que guarda o "Levantado do Chão" do lado esquerdo do coração. Quando, e se me casar, levarei um cravo. Quando e se for mãe, ensinarei a liberdade cantada de Abril ao meu filho. Abril, esse sonho feito dia, vale sempre a pena.
* Fernando Pessoa, n'A Mensagem