Não fumo vai quase para três meses. Três longos meses que, ainda assim, manda a ciência e a cautela, não me considero ex-fumadora. Não que me apeteça recair no vício, mas precisamente porque é um vício e merece ser tratado como tal.
Claro que há momentos do dia em que a tentação espreita insidiosa e permanece ali, quietinha, à espera de oportunidade. Claro que nesses momentos entendo que é preciamente por essa tentação que nunca digo que deixei de fumar. É mais um "agora não fumo, amanhã logo se vê". É quase como o amor, agora amo-te, amanhã também espero amar-te, mas isto do amor não se controla. E não fumar é apenas um acto de amor para comigo. Um gesto de respeito para comigo. E mesmo sabendo disso, é difícil (embora não tão difícil como pareceria de fora).
Há inconvenientes nesta opção por uma vida respirável, é bom que se diga. Continuo um barril autêntico, embora esteja a praticar caminhadas de meia hora quase todos os dias. Engordei o suficiente para passar por grávida e, por mais que haja situações em que tal pode ser divertido, asseguro-vos que para a auto-estima tanto peso é, vá lá, chato! Outro inconveniente é não saber o que se fazer quando os fumadores se reunem e vão "lá para fora", esse conceito estranhíssimo para quem não fuma, mas tão sedutor para quem fuma (excepto quando chove, claro está).
Em suma, é uma tarefa árdua, a de não fumar. Bebo muita água e é um óptimo truque quando me vêm à cabeça ideias de querer fumar, e digo-vos que ando a beber duas garrafas de litro e meio por dia. É muito xixi!
Estou crente que a perseverança compensará. Mas o que eu realmente queria era daqui a uns tempos nem pensar nisto, e ser apenas alguém que já fumou e deixou de o fazer, sem grande estilo, sem grandes ondas, simplesmente parou. Porque deixar de fumar não merece ser assim tão recompensado. É tão valoroso como estarmos a queimar a mão no lume e fazermos o gesto reflexo de retirar a mão.