Já escrevi noutras ocasiões que não acredito nestas medidas, neste governo, e que me sinto envergonhada e enraivecida por estes e todos os outros discursos.
Canso-me desta indignação diária, destas passas do Algarve todos os dias, ainda mais na semana que precede o fim do mês e sem saber se o dinheiro cai na conta, de facto, e como deveria, no prazo correcto. Canso-me desta gente, destes políticos, que não sabem distinguir entre uma pergunta aberta e uma pergunta fechada, que arranjam formas descabidas de evitar compromissos, que não têm nem sabem o que é ter palavra e que, com uma cara de pau do tamanho do Corcovado ainda dizem que entendem as dificuldades que os portugueses passam. Estes políticos enojam-me, ofendem-me e, como os espanhóis, eu digo, "Não me representam", aliás, "Não nos representam", que é bem mais democrático. Não caiamos, contudo, no erro de ir a correr botar a responsável cruzinha no Dr. Inseguro, que também ele é assim, sem sal, sem esperança, raposo manhoso. Nem de contar com o papel intercessor do Dr. Aníbal, o morto-vivo mais bem pago do país.
Neste momento, Portugal, o país que eu amo, o mais belo do (meu) mundo, é um país de merda. Lamento ter de o dizer. Governo de merda, que não sabe nem fazer contas nem bater o pé e respeitar o povo, que é, tem de ser, tem mesmo de ser, quem mais ordena. Empresas geridas por pessoas de merda, que comparam o não poderem continuar a gastar 200 euros por semana em compras com o chegar de manhã ao frigorifico e vê-lo humildemente vazio e não ter esse valor por mês para comida. Europa de merda, que vê números, números, e nada de gente, pessoas, que têm frio, e fome, e sede, e desesperança, essa doença letal que nos corrói por dentro.
Estamos num ponto cego, sem soluções dentro do quadro democrático, porque a política já não é por nós nem para nós, é contra nós e a favor deles. Política e honestidade, infelizmente, são como azeite e água.
Sábado, pela primeira vez, e com 64 anos de respeitosa idade, a minha mãe acompanhar-me-á à manifestação. Porque também ela, que sempre foi de direita, ao contrário da filha, está farta, desiludida, e sem esperança. E isto senhores, isto, é o pior que me podem fazer, é fazer-me ver a minha mãe envelhecer mais rápido e mais pobre após anos a trabalhar e a descontar, é mudarem-lhe as regras do jogo ao chegar à meta. Isto senhores, não vos perdoo. Acuso-vos. Responsabilizo-vos.
Estive de férias e soube tão bem, soube pela vida.
A mãe mais especial de todas fez anos.
Há manifestação dia 29, e lá estarei.
E é assim ... não sou capaz de nada profundo no primeiro dia de regresso ao trabalho...
Tenho pena dos nomes com que, desde ontem, brindam a tua progenitora. A culpa não é dela, não, certamente que ela não sabia. Como poderia saber, a coitada, a enorme besta quadrada que viria a parir?
Sabes, Pedrito, custa-me entender como é que, andando a apertar o cinto, a fazer corajosos sacrifícios, blá blá, há já tanto tempo, a conjuntura não melhore. Antes pelo contrário, piora a olhos vistos. Não entendo, até porque, felizmente para nós, tu não pareces nem mais privado dos vícios mundanos, nem qualquer elemento do teu esquadrão do terror. Ainda que continuem a sugar-nos, empunharemos, felizes e contentes, a bandeira da comiseração, do esforço patriótico, não sabemos fazer outra coisa, daí teres dirigido palavras tão cruéis mesmo antes da hora da bola. Mas Pedro, até a inércia dos portugueses se esgota. Teme, pois, a fúria dos mansos. Há-de haver por aí quem te queira foder o juízo e a carteira. Eu preferia ter-te em cativeiro a pão e água durante quatro aninhos. Ou tudo junto... Só para os sacrifícios serem devidamente repartidos. E mesmo assim, temo que nos fiques a dever...
Ontem, quando estava a falar com a metade ao telemóvel, e para celebrar o facto de ter conseguido comprar bilhetes para o último concerto de Ornatos Violeta em Lisboa, desceu sobre mim a inspiração e cantei-lhe "anda comigo ver Ornatos Violeta" na melodia pouco batida, quase desconhecida até, do convite dos Azeitonas de "Anda comigo ver os aviões". Quando desliguei, fiquei com a música na cabeça. Não gosto particularmente da música, e este é um ponto importante. Disse que ia a conduzir? Bom, ia a conduzir (tinha falado através do auricular, que não se vê do lado de fora, apesar de ser daqueles velhinhos com fio e tudo). Então, eu conduzo de janela fechada, mas quando está este calor, obviamente abro a janela. E estou a parar numa passadeira e sai-me um "Anda comigo ver Ornaaaaaaatos Violeeeeeeeeta", em voz de criança a gozar e num volume relativamente alto. É que eu canto sozinha. Eu falo sozinha, cantar sozinha é apenas o passo seguinte. Parei numa passadeira de janela aberta a cantar isto alto. Não consigo descrever o ar assustado do pacífico transeunte a olhar para mim, acho que até atravessou mais depressa.
Tirando o hilariante da situação, quando ao fim do dia contei à metade, saiu-lhe em tom de gozo um guincho parecido com aqueles dos amoladores de facas. Sabem como é? Podia ter-lhe saído qualquer coisa, mas foi aquilo que saiu. Bom, quando eu era miúda a minha mãe dizia-me que era sinal de chuva. Sempre gostei destas tradições e mitos profundamente alicerçados em nada concreto.
Resumindo, começámos a conversar sobre como inúmeras profissões se tornaram descabidas. Já quase não há sapateiros, amoladores, leiteiros, etc. e tal. Porque estamos numa sociedade em que do velho não se aproveita, compra-se novo. Com a menor qualidade dos produtos e materiais, o preço baixa e, portanto, não compensa mandar arranjar. Que mensagem andamos a passar às crianças?! Quando formos velhos, o que nos acontecerá? Eu quero que os meus filhos saibam que o som dos amoladores traz recordações. E estava eu nesta ladainha pró-antigamente quando me diz ele: sabes que sei amolar as facas, não sabes? (sim, mas esqueço-me pá!) então, quando eu estiver a amolar facas, assobio assim como eles fazem.
E pronto, descobri que por (também) é por coisas destas que este gajo é a minha metade.
Vamos lá a ver, eu sou toda a favor da RTP. A sério que sou. Aliás, de cada vez que vou de pseudo-férias, fico em casas emprestadas que não têm modernices do cabo e afins e só tenho 4 canais à escolha. Opto sempre pela RTP, sobretudo a RTP2, que já se chamou :2, TV2, etc., etc. e tal. Gosto mesmo daquilo, pá. Ah, mas não dá nem lucro nem audiências. Pois, isso são as novelas da Sic e da TVI que dão, caso ainda não se tenha reparado, o que não é sinónimo nem de qualidade nem de bom gosto. Não gosto de novelas, mas respeito o espaço que têm no imaginário português. Mas eu gosto das séries do segundo canal, gosto de documentários e essas coisas chatas que não interessam ao menino Jesus mas a mim sim.Descobri muito boa série e muito bom filme graças à RTP.
Mesmo a RTP1, para o geral entretenimento, tem mais o meu aval do que a concorrência. E não gosto do Malato, mas lá está, a brejeirice tem alguns limites, do Malato o menos. No que toca a informação, então nem se fala. Sou incapaz de mudar da RTP/RTPinformação. Ah, que é parcial e tal e beca beca. Mas a mim convence-me. Gosto particularmente de acordar e deixar entrar no meu dia o João Tomé de Carvalho, no irepreensível Bom Dia Portugal (sim, é algo repetitivo, mas ainda assim, apenas ameaçado pelo excelente trabalho do João Moleira da SicNotícias). Gosto do jornalismo da RTP. Gosto da RTP2. Não gosto de ver touradas na televisão, nem de saber que o dinheiro dos meus impostos patrocina essa barbárie. Gostava era de ver a bola na TV e isso não há este ano, parece que o dinheiro foi todo para os mega salários dos apresentadores do povo. Mas não gosto, aliás repugna-me, é ver o José Rodrigues dos Santos com ar de carneiro mal-morto a dizer que "Cristiano Ronaldo está ... triste".
What the fuck? Cristiano Ronaldo partiu a perna seria notícia. Cristiano Ronaldo foi preso, também. Agora Cristiano Ronaldo está (silêncio de suspense) triste? Triste? Mas que raio? E eu com isso? Coitadito do moço, ganha pouco e não tem quem lhe faça as vontades? É que como ele (infelizmente não) estão milhares de portugueses. Cristiano Ronaldo está triste é daquelas ofensas noticiosas comparável apenas ao peeling da Lili Caneças. Aliás, imbuída de total imparcialidade, apenas vos posso dizer que me estou nas tintas para Cristianinho, quero é que ele jogue bem pela selecção. É para isso que lhe pagam. Quanto à direcção jornalística da RTP só me ocorre: shame on you.