Sou psicóloga, como a maioria saberá. Trabalho, como psicóloga, algo que é relativamente raro neste país. É um trabalho que me preenche e me desafia constantemente.
Há uns tempos, recebi no consultório uma rapariga para primeira consulta e, aquando daquela conversa inicial, tipicamente de recolha informativa e de estabelecimento de um laço emocional, perguntei, "E namorado ou namorada?". E diz-me ela que já tinha ido a vários terapeutas de quem tinha sempre fugido porque sempre assumiram que seria "um namorado". E na verdade, já imaginam, havia uma namorada.
Tenho diversos casos destes. De lésbicas e gays que chegam (e que ficam) porque podem ser exactamente quem são. Nunca me fez sentido ser de outra maneira em contexto de psicoterapia e em contexto pessoal. Sou uma radical defensora do direito a quem cada um seja quem é sem ter medo ou receio do que o outro poderá fazer.
Por isso, pensem que um homossexual não escolhe. Uma pessoa trans não escolhe. Tal como um heterossexual não escolhe. Faz parte do que é, de como é. Tentar perceber aquilo que é diferente como algo menor é um profundo desconhecimento da complexidade da realidade do que somos, em termos de sexualidade, de indentidade de género e, vá lá, da empatia básica da humanidade.