espaço de mau feitio, alguma reflexão, música e outras panóplias coloridas

29
Mai 17

Parece que foi ontem que ouvíamos cantar “de Bragança a Lisboa são nove horas de distância”. No imaginário musical colectivo, o tempo e a distância eram obstáculos reais (mas sabemos que, pelo menos na canção, não necessariamente inultrapassáveis). Actualmente, de Lisboa a Bragança ou a qualquer outro lado, o tempo é um conceito relativo e fluido e pode ser aproveitado de forma mais conveniente. A distância encurta-se e do longe se faz tão perto.


Mas será que é mesmo assim? Olhando em volta, quase todos conhecemos alguém no nosso dia-a-dia que por aqui se encontra para trabalhar. No meu caso, este “aqui” significa Lisboa, mas esta é uma realidade que cada vez mais se estende pelo país, pelo continente e pelo mundo.


Regressemos, então, ao “aqui”. Este é um aqui “imediato” e que, nalgumas vezes, carece de definição temporal. Se, por um lado, a mobilidade, aliada à tecnologia e à inovação que nos permitem novas formas de trabalhar, é um extra, um plus numa sociedade cada vez mais exigente, está, por outro, ligada a um fenómeno de falta de vinculação emocional ao “aqui”. Um desenraizamento que pode levar a um processo mais solitário.


Em termos mais existencialistas, um lar e uma casa tornam-se conceitos mais do que meramente físicos, mas sobretudo emocionais e intrinsecamente identitários. Claro que os motivos que contribuem para a partida, bem como as ferramentas com que se embarca nesta aventura, sejam de cariz social, sejam de cariz pessoal, económico, laboral, etc., acabam por ter um papel preponderante na capacidade de adaptação e de resiliência que a pessoa tem ao chegar. A questão não é a chegada. É o ficar. O permanecer e o desafio de construir novas redes, sociais, laborais, interpessoais e intrapessoais. Se, num momento inicial, a pessoa é encorajada a reconstruir-se e a redefinir-se, com o hábito, há toda uma constelação de tarefas, pessoais e sociais, que se tornam necessárias.


É neste momento de desafio que faz sentido que as cidades sejam pólos de acção. Não se substituindo as competências que a pessoa deve adquirir na reconstrução das suas relações e da sua identidade, mas criando e fomentando espaços e momentos para que tal possa acontecer de forma eficaz.

O ritmo da mudança é, cada vez mais, frenético. Mas terá mesmo de ser assim? Será que este tem de ser um processo exclusivamente solitário, e não uma construção inclusiva solidária da comunidade? Entre solitário e solidário muda apenas uma letra, mas poucas vezes uma letra fez tanta diferença no bem-estar de uma pessoa – um alguém que todos conhecemos e que se mudou para um novo “aqui”!

 

 

Daqui.

publicado por Vita C às 16:09
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