Uma licao comovente...
EDIT: tive de actualizar o link. O link para a entrevista completa foi removido... mas a partir deste navegam e encontram o resto.
A mulher mais bonita do mundo
estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
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O Delito é só um dos meus blogs de referencia geral.
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(terá sido um acidente?)
Jantámos na casa acolhedora da minha mae, engalanada como só a minha bisa conseguia fazer, desdobrámos as tradicionais rifas (que eu enrolei durante a tarde), rimos, bebemos, conversámos, demos croquetes aos caes, comemos mousse de lima feita por nós, mousse de chocolate feita pela melhor mae do mundo. Fomos almocar na casa sempre cheia dos tios da metade, com saudades trazidas directamente de Londres, moscatel e vinho tinto, fotografias para recordar, biscoitos doces como o ambiente, rimos e chorámos de tanto rir, metade partiu o banco onde estava sentado, caminhámos até ao Canas para desanuviar e para voltarmos para podermos comer mais um pouco de felicidade doce. Recebemos família, amigos, presentes nem tanto assim.
Fomos família. Somos felizes.
Tive vários professores na faculdade que me marcaram. Alguns pela negativa, muitos mais pela positiva. Desde as aulas ao pé do lago a ver os peixes, ao professor que sabia o nome de todos os alunos das suas cadeiras (vários anos depois de deixarem de ser seus alunos). Ainda o professor que simulou um ataque cardíaco em plena sala de aula para nos falar da "apatia do espectador" e da Kitty Genovese.
Tive um professor que dava aulas optativas nas escadas da faculdade porque não tinha previsto que todos os alunos do ano se inscrevessem na sua cadeira não obrigatória (era etologia, coisa a que muitos psicólogos não dão a devida atenção). Nas escadas ao ar livre. E entretanto, à chuva. Sem ir embora. Porque aqueles eram os seus alunos. Esse mesmo professor deu, a mim e a uma colega, guarida no seu gabinete, dotado de aquecimento, uma vez que vim de uma casa de cópias do Campo Grande (mais barata do que a nossa reprografia) à chuva, para que nos pudessemos aquecer e evitar uma monstra constipação. Esse mesmo professor assumiu que não era professor de café, de ser popular entre alunos. Simultaneamente, preparava habilmente as nossas sebentas, estimulava que participássemos em conferências e jornadas (jornadas eto-primatológicas, yeah!), em tertúlias onde a sua sapiência descia ao comum dos mortais. Torturou-nos mentalmente ao desenharmos experiências sensoriais que associassem Klimt e Kandinsky a Béla Bartók. Nada de exames escritos nas suas cadeiras, apenas orais. Foi meu professor de Grandes Correntes da Psicologia (com o professor das aulas no lago), de Etologia e de Psicologia da Motivação Humana. No primeiro exame oral apontou a cadeira e disse-me "Pode sentar, está electrificada" ... Foi das pessoas que mais me marcou e mais cravou em mim a ânsia de aprender, de perspectivar, de entender MIDA, MIA e afins. Era filho de um dos mais ferozes opositores da instituição do curso de Psicologia em Portugal.
A ele, o meu marcante professor Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva, os meus sentidos pêsames.
Ao pai, o eterno professor José Hermano Saraiva, a homenagem tardia pela triste certeza de saber que ninguém cuidará como ele da memória que existe em cada História.
Esta semana foi particularmente dolorosa. Porque a Campera morreu e eu descobri o quão potente é a minha raiva, porque uma das pessoas que mais admiro voltou costas a este país que ama e partiu, porque fui confrontada com aquilo que poderia ter sido e aquilo que também escolhi não ser. Sim, estou cansada, mas também estou esperançada.
Vale-me o que sempre me valeu: a crença de que os meus passos nunca são solitários. A certeza que há mais nesta vida do que o longe e a distância. O mundo pode ser cinzento, mas há momentos, raros, que são da cor do sorriso que amo, que são da cor da certeza do que quero hoje para o meu futuro, da cor das coisas simples.
Ah, e I <3 Pólo Norte! Feliz Ano Novo!
* Pearl Jam, Unthought Known
Quando uma medida é inconstitucional e persiste, quando se antevê que para o ano nos tocará a todos em vez de não tocar a nenhum, quando grassa a incompetência, a corrupção e quando quem deve tomar medidas falha claramente os alvos, a Bad é que tem razão.
Continuo sem entender estas medidas de aperto e sufoco sem a devida compensação. Eu sei, eu sei, mea culpa, mas andei a reler o Animal Farm (lamentavelmente traduzido para O Triunfo dos Porcos), que querem, e o certo é que, não sendo comunista, me parece que é na oposição que está a alternativa, e não passa pelo PS. Porcos, é o que vocês são.